Com o isolamento social causado pela covid-19, os testes de rotina diminuíram e os verdadeiros números ainda são uma incógnita
Segundo um estudo feito pela CDC (Centers for Disease Control and Prevention – Centro de Controle e Prevenção de Doenças), publicado no último dia 12, durante a pandemia de covid-19 houve um aumento de DSTs nos Estados Unidos — os números das taxas de infectados aumentaram em 2020, quando comparados a 2019.
Mesmo no começo de 2020, com o isolamento social e as pessoas sendo impedidas de sair das suas casas e assim dificultando a diversidade de parceiros sexuais, o estudo mostra que esse aumento está relacionado à queda dos exames preventivos, por conta exatamente do isolamento, o que fez muitas pessoas terem medo de sair de casa e contrair a covid-19.
O CDC diz que a principal preocupação é que a pandemia impediu as iniciativas dos testes para doenças como clamídia, gonorreia e sífilis. Os exames são uma parte crucial para o controle dessas doenças, porque elas podem aparecer assintomáticas no começo.
Entre 2015 a 2019, o número de casos das três doenças aumentou em 30%, e de 2019 a 2020 caíram 14%. Segundo dizem os especialistas do CDC, essa queda não é real, e diminuiu apenas porque não estavam sendo feitos testes.
O CDC relata que houve mais casos de bebês com sífilis em 2020 do que em 2019. Cassey Pinto, professora-assistente de saúde pública da Universidade Estadual da Pensilvânia, conduziu um estudo em maio de 2020 que mostra que, à medida que os casos de covid-19 aumentam no país, os números de exames para DST caem radicalmente.
Em abril de 2020, no Estado de Nova Iorque a taxa de pessoas com resultados positivos para covid-19 subiu 25%, enquanto as taxas de exames de DST caíram mais de 75%.
Por conta da pandemia, muitas clínicas do país priorizaram pacientes sintomáticos. “Foi muito angustiante tomar essa decisão”, disse Julie Dombrowski, professora associada de medicina e epidemiologia da Universidade de Washington.
A imprecisão nos números é preocupante, porque pode facilitar a disseminação do desconhecimento. A gonorreia é assintomática para a maioria das mulheres que a contraem. A clamídia é a DST que tem casos mais frequentes nos Estados Unidos, e é assintomática para até 50% da população masculina e 80% para a feminina.
“Todo caso não diagnosticado, toda pessoa assintomática é uma pessoa que pensa que não está infectada, então está disposta a correr o mesmo risco que corria antes”, relata Cassey.
Prioridade para covid
No começo da pandemia, muitas clínicas que realizavam exames para DST foram fechadas e seus funcionários realocados para ajudar nos testes de covid-19 e no rastreamento de casos.
Em maio de 2020 a Coalizão Nacional de Diretores de DST, uma organização de saúde pública com parceiros em todos os 50 Estados, informou que 83% dos programas de DST nos Estados Unidos estavam adiando seus serviços e que em 66% ocorreu uma diminuição nos exames. Em agosto do mesmo ano, um em cada cinco programas para combater a DST foi completamente interrompido.
Segundo Julie, eles “imediatamente priorizavam pacientes que apresentavam sintomas ou que precisavam de tratamento no mesmo dia”. Logo depois, eles pararam de rastrear pacientes assintomáticos. Em abril de 2019, a clínica em que ela trabalha atendeu 990 pacientes. No mesmo mês em 2020, somente 399.
A clínica Whitman-Walker Health interrompeu os exames sem agendamento durante a pandemia. De acordo com dados fornecidos pela clínica, eles viram uma redução de 43% nos exames de clamídia, gonorreia e sífilis em 2020, quando comparado com 2019.
O maior desafio enfrentado pelos centros médicos foi a escassez de exames. O CDC informa que 51% dos entrevistados não tinham materiais para realizar os exames de gonorreia e clamídia em abril de 2020. Eles ainda coletaram informações adicionais até janeiro de 2021, quando 38% ainda não tinham os exames. Os laboratórios trocaram os testes que detectam DST para os de PCR, que detectam a covid-19.
Fonte: R7 – Revista oeste Foto: Reprodução/ Shutterstock
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